Marcelo de Oliveira Vieitez*
Lima Barreto não fez parte da Academia Brasileira de Letras. Sabe-se que seu estilo literário nunca se harmonizou com os padrões da época, da mesma forma que sua vida nunca se harmonizou com o sistema social estabelecido naquele período. Talvez sejam estes os motivos de maior peso para que suas histórias demonstrassem tanta ironia, fossem tão reativas e conseqüentemente tão vivas. Se por um lado a Academia sugeria a dominância de certos estilos literários através de um grupo seleto de escritores, por outro Lima indicava a existência de bons escritores do “lado de fora”, caminhando pela margem e oferecendo um material diverso, não menos excelente. O conto “O homem que sabia javanês” ilustra com ótimo (e também ácido) humor a antipatia que nutria por certas classes sociais. E os intelectuais não ficam de fora.
Por que Lima não fez parte da ABL? Antiquado demais? Pouco provável. À frente de seu tempo? Talvez. O fato é que, apesar do conto ter muita relação com sua vida real, não precisamos saber nada a respeito de Lima Barreto para se ter uma ótima experiência com a leitura. É isso que demonstra uma literatura viva. Ela continua sem o autor. Não adianta relegá-lo à margem. Do duplo absurdo oferecido por Lima resulta uma dupla realidade: um personagem indicando quanto charlatanismo pode haver por trás de títulos importantes. E um escritor que não precisou de títulos para se tornar relevante.
*Aluno de Estudos Literários do IEL / Unicamp
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