segunda-feira, 23 de maio de 2011

Educação por educadores

Júlia Ciasca e Rayssa Ávila*

O aluno, o professor, a escola (Editora Papirus), de Rubem Alves e Celso Antunes, surgiu de uma conversa entre os dois autores sobre os principais problemas da educação hoje no país. Seguindo os mesmos moldes em que se organiza a obra, o título também foi lançado com um bate-papo informal, entre os escritores e seus leitores. O encontro, realizado no último dia 25 na livraria Saraiva de Campinas, permitiu ampliar o debate sobre uma matéria que não deve se limitar ao espaço acadêmico. Na plateia, participaram sobretudo professores, lançando questões e compartilhando suas experiências e angústias com os educadores. 
Os dois autores iniciaram a conversa questionando a formação dos professores. Em oposição aos educadores que apenas repetem o conteúdo, eles defendem uma forma criativa de ensinar, de modo a provocar os estudantes. Celso Antunes citou o exemplo de uma escola de São Paulo que trabalhou de maneira próxima ao ideal: “A matéria que se dá é aquela que está na vida que se vive”. No primeiro dia de aula, vários cartazes espalhados pela escola continham perguntas sobre assuntos aparentemente triviais que convergiam com a curiosidade das crianças. Ao longo do ano, as respostas eram desvendadas, não importando os limites entre as disciplinas e o cronograma escolar.

Faltaria também aos educadores de hoje o amor ao que fazem ou o amor à narrativa, como a professora da Faculdade de Educação da UFRGS Rosa Maria Bueno Fischer definiu em Fórum realizado na Unicamp, na semana anterior ao lançamento. Ainda existiriam muitas formas de passar conhecimento ou narrar com intuito de instigar os alunos, valendo-se de criatividade. Para Rosa Maria, cabe ao professor não perder esse amor e, apesar do excesso de informações e velocidade de sua difusão, selecionar o vasto material disponível para sua narrativa.
Celso Antunes e Rubem Alves também defendem a inclusão da poesia e da filosofia na grade curricular. A própria existência de uma grade remeteria à imagem de algo que aprisiona, condição divergente à educação almejada. Essas disciplinas, menos tecnicistas e mais negligenciadas, teriam o intuito de ensinar a lidar com o mundo repleto de perdas, medo e dores. Neste sentido, o professor deve atuar como um artista, mediando o contato com a literatura, por exemplo. Rubem Alves descreve como fazia um dos bons professores que teve: “Ele sabia que se nós [os alunos] lêssemos, odiaríamos a literatura. Nós não sabíamos ler, sabíamos juntar letras. Ele nos ensinava a arte da leitura”.
A conversa seguiu com temas polêmicos como bullying e a seleção do vestibular, por meio do compartilhamento de histórias, o que deixa entrever a linha de estudo e o curso de vida de cada autor. O debate, sobre educação por educadores, segue acontecendo pelo Brasil ao longo do ano.


*Alunas de Estudos Literários do IEL / Unicamp

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