quinta-feira, 26 de maio de 2011

Virada literária

Daniele Souza e Mayara Freitas*

Música... Provavelmente é essa a primeira palavra que vem à mente do público quando se fala em Virada Cultural. Contudo, em sua sétima edição, realizada no mês passado, a literatura, arte considerada por vezes erudita, subiu ao palco de pés no chão. Os eventos literários da Virada deste ano tiveram como marca a interação com o público. Eles variaram entre saraus, exposições e intervenções teatrais. Diversas unidades do Sesc abrigaram apresentações, assim como bibliotecas municipais, centros culturais e palcos especialmente montados para saraus.

A Galeria Prestes Maia recebeu a Maratona de Narração de Histórias, conduzida por Kiara Terra. Ao contrário do que se poderia imaginar, a narração não se limitou a um simples monólogo. Ela obedeceu à seguinte dinâmica: a contadora começava explicando a sua origem e, em seguida, introduzia a história. Ela não a contava, porém, sozinha. A todo momento perguntava a opinião do público sobre o que iria acontecer, se algo parecido já havia se passado em suas vidas. De acordo com as respostas, ela continuava a narrativa. Assim, ao final, contadora e público haviam criado uma nova história, cujo fio condutor era o conto original.
Segundo explica Kiara, uma das finalidades do seu método é abrir espaço para que as pessoas possam também criar literatura. “O intuito é fazer com que todo mundo caiba na história narrada”, diz. Para ela, a literatura seria assim “algo vivo, que nasce do encontro das pessoas”. As apresentações da madrugada foram a maior surpresa para Kiara. Às 4 da manhã, a Galeria Prestes Maia lotou. “As pessoas passavam pela galeria e acabavam participando. Elas iam sendo roubadas pela história”, lembra a contadora.
No Sesc Ipiranga, a Cia Patética de Teatro também explorou a literatura pela sua oralidade. Com a intervenção Realejo Poético, ela encantou o público por meio de algo simples: um bonequinho sorteava poemas ao som de música ao vivo. Para a atriz Lanna Moura, integrante da companhia, a abordagem feita por intermédio do boneco se torna “singela” e é mais bem recebida pelas pessoas. Ela conta que o projeto, existente há oito anos, “desperta e incentiva a leitura de poesia”, além de ajudar a divulgar novos poetas e resgatar os mais consagrados.
Já a Casa das Rosas celebrou a pluralidade da poesia contemporânea em seu já conhecido Sarau da Casa. Nessa edição, um bate-papo sobre o cenário literário atual teve como convidados os poetas Fábio Weintraub e João Bandeira. A diversidade de estilos, marca do Sarau, se fez também presente na plateia, formada por cerca de 70 pessoas, de diferentes idades e origens. Porém, segundo observou o poeta Gerson Rodrigues, de 56 anos, “a maioria frequenta a casa durante o ano”. Para o poeta, isso mostra que ainda há dificuldade de atrair novos públicos para atividades literárias durante a Virada. Os eventos interativos poderiam, nesse contexto, desempenhar um papel importante na democratização da literatura.

* Alunas de Estudos Literários do IEL / Unicamp

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